Histórias de tempos antigos, antropologias


De Lubbock trouxe para Caconda José de Anchieta (m. 14.9.1897) um livro que o escriba do espólio (de 1899) chamou de “o Homem antes da História”. Anchieta era conhecido em Caconda desde 1876, segundo testemunhos da época, tendo espalhado filhos pelo centro-sul de Angola. Não sei, portanto, quando lhe chegou lá a obra. Mas aqui deparamos com uma das dificuldades da listagem, que é a da falta de precisão quando se nomeiam títulos e autores, acrescida pelas lacunas referentes a outros dados da edição. Só resta uma hipótese: adivinhar a partir do que nos é dado, como num logogrifo casual, cotejando as poucas informações com os catálogos de muitas livrarias e os dados biográficos (igualmente escassos) do proprietário do livro.

Em se tratando de Sir John Lubbock, nascido em 1834 e falecido em 1913, talvez o título da obra fosse, em inglês, The origin of civilisation and the primitive condition of man, cuja primeira edição é de 1870. Mas no inventário de órfãos refere-se que é “em francês”. Nesse caso, pode tratar-se da trad. de Ed. Barbier, também tradutor de Darwin. Seu título completo é: L'homme avant l'histoire, étudié d'après les monuments et les costumes retrouvés dans les pays de l'Europe; Suivi d'une description comparée des moeurs des sauvages modernes, (Lubbock, 1867). Mais do que um livro de História, é um clássico da Antropologia, um dos primeiros nesse domínio.

A secção que neste meu livro está reservada à História incluirá, por causa de obras como esta, obras que, não sendo estritamente Histórias, ainda circulavam em torno da noção de História. A presença do título comprova que José de Anchieta, apesar dos muitos anos que levava já de Angola, mantinha-se atualizado em termos de referências bibliográficas e científicas. E mostra, ainda, uma evolução e diversificação a que o século XIX assistiu, em Angola também. De Sir John Lubbock, atestando esta diversificação e atualização, temos ainda, na Biblioteca do Governo Provincial de Luanda, um título aparentado, igualmente em francês: L’Homme Préhistorique (Lubbock, 1888).

O espólio de Anchieta integrava, junto com outro da mesma época e de Caconda, um livro que veio contradizer Sir John Lubbock e que foi escrito por A. F. Nogueira: A raça negra, como é conhecido. O autor era evolucionista – embora não se coibisse de criticar Darwin em vários aspetos – e parece inclinar-se inicialmente para o monogenismo, embora defenda, quanto à origem das línguas, uma hipótese transformista e, até, poligenista. Mas é monogenista no que diz respeito à origem da humanidade. Acha, no entanto, que, entre as raças (amarela, branca e negra) nenhuma terá derivado da outra, postulando portanto o transformismo. Elabora uma discussão principalmente científica, baseada na leitura de um número reduzido mas significativo de obras, mas os seus argumentos são também de cariz moral, bipolaridade que responde, aliás, à dos adversários. Agregou, simultaneamente, o elogio da mestiçagem, que podia gerar espécies infecundas mas, no geral, gerava espécies fecundas (reporta-se a exemplos do reino animal). Pensa que são quase infinitas as variações entre as três raças, que sempre se terão misturado (pelo que seria necessário definir onde e quando se tornaram ‘raças’). A. F. Nogueira defendeu igualmente que ‘os negros’ são capazes de civilização, desde a origem da obra, explicada na introdução (recorde-se que, nesses tempos, o colonialismo se justificava pela missão de civilizar África). A “perfectibilidade do negro” é que lhe coloca a pergunta fundamental para optar entre as várias teorias existentes:
parece-nos que o único modo de conciliar o facto da perfectibilidade do Negro com uma teoria científica é o de admitirmos o seu aparecimento mais recente.
Uma completa idiotice, forçando a parte da realidade que se desconhecia para se acomodar a teoria. Mais adiante reafirma:
sendo para nós inconstestável que o Negro se aperfeiçoa não vemos outra razão que possa explicar o seu estado de atraso senão a que emitimos.
No estado em que se encontrariam, dada a sua juventude, os negros precisariam da ajuda de outras ‘raças’ para progredirem. Defende ainda que, sem os negros, o desenvolvimento das colónias era impossível e impensável e que a sua participação não devia nem podia limitar-se ao uso do trabalho escravo ou barato, que seria prejudicial também ao desenvolvimento. Juntava argumentos morais ainda, sobretudo quando referia casos em que os colonizadores praticamente eliminaram os colonizados para substituí-los no povoamento. Defendia que ‘o negro’ precisava de ser ensinado pelo trabalho, devidamente pago e esclarecido, pelo desenvolvimento das atividades agrícolas, mas sobretudo pelo ensino. Mais, tal ensino devia ser primeiro ministrado em línguas africanas. O recurso às línguas africanas tornava, no seu entender, o ensino “mais pronto e eficaz” e o estudo das línguas africanas, por parte dos colonizadores (essencial para desenvolverem a educação nessas línguas), ajudaria os portugueses a compreenderem os angolanos. Acha, finalmente, que o destino de todas as colónias era o da emancipação, sendo melhor vir a ter uma nação amiga, irmã, desenvolvida, com um povo instruído, que manter a terra pobre, paralizada, com medo de que ela se liberte da tutela. Orientação esta que, somada à de outros como José de Macedo, e ouvida a tempo pelos colonizadores, podia ter projetado desde muito cedo Angola no ranking dos melhores países africanos, evitando guerras, retrocessos, atraso económico, retardo político e atraso cultural.

Assinada por Jean Ferdinand Denis (1798-1890), há uma série de certo modo enciplopédica e antropológica, de divulgação científica também, intitulada L’Univers, Histoire et description de tous les peuples […], que se começou a publicar em 1837. Um ‘Tomo I’ (não percebi de que volume), sobre Portugal, apareceu-me na Biblioteca da Administração Municipal de Benguela, mas não foi possível identificar a história do exemplar (Denis, 1846), tratando-se de uma primeira edição.

Ainda sobre África havia, no Arquivo Histórico em Luanda, um livro intitulado L’Afrique occidentale: la nature et l'homme noir, do “Dr. Paul Barret” (1846-1910). Ao exemplar faltava já a folha inicial, onde se mencionavam editor e data (Barret, 1888). Foi impresso na Tip.ª Firmin-Dido-Mesnil. O livro, segundo a introdução, contou com as impressões de uma estada de quase dois anos no Gabão e de muitas viagens à costa ocidental africana.

Nessa introdução considerou Barret que as “raças humanas” habitantes desta costa eram “irmãs de origem” (p. VIII) – uma tese que veio a ser, um século depois mais ou menos, uma bandeira da historiografia banto. Mas ele centra-se nas zonas do Senegal e do Gabão. A perceção que revelava do contexto histórico seu contemporâneo, no que diz respeito aos africanos desses lugares, era politicamente correta (o prefácio foi subscrito em “Brest, Agosto de 1884”). Explica a desconfiança do “negro” com a presença do “estrangeiro invasor e rico”. No final incluiu um curioso mapa, da responsabilidade dos editores Challamel, feito em Paris em 1888. Angola integra Luanda e Benguela, do rio Zaire até ao sul de Moçâmedes, mas numa faixa estreita junto ao litoral – portanto ficam de fora o Huambo, Kuando Kubango, Lundas, a maior parte do Kongo, da Huíla. No entanto, o mapa já inclui o Estado Livre do Congo. Mas as fronteiras são pré-conferência de Berlim e o seu desenho prende-se, provavelmente, com interesses a que na Conferência se iriam confrontar.

De povos outros havia, num único anúncio do Recife, a história “dita dos judeus”. Talvez se tratasse da famosa Historia dos judeus de Josefo, de que se publicou tradução, de José Roberto Monteiro de Campos Coelho e Sousa, em Lisboa, em 1792-1793. Flávio Josefo, presumível autor, nasceu numa rica família sacerdotal (era fariseu), em 37 ou 38 DC. Desde novo estudou letras e leis, alcançando fama de extraordinária inteligência. Viajou até Roma e conhecia também a cultura grega, manifestando simpatia pelo estoicismo e tendo por modelos da sua História Tucídides e Políbio. Era, portanto, um judeu do Império. No entanto chefiou a Galileia contra os romanos e foi preso, primeiro, depois protegido de Vespasiano. Ainda enquanto prisioneiro na Terra Santa, a sua romanização viria a acentuar-se cada vez mais. A presença da sua obra representava, portanto, não apenas os judeus mas também a cultura clássica greco-latina, apropriada a partir de uma das suas margens.

Mas podia ser também a Histoire dês juifs depuis la destruction de Jerusalem jusqu’a ce jour, de Charles Malo, publicada em Paris, por Leroux, em 1826 (Malo, 1826). Nessa obra há um interesse suplementar para os africanos, a referência aos judeus da Etiópia. Diz que os “Fellahs”, ou judeus da Etiópia, “creem descender da tribo de Judá por uma antiga colónia ali estabelecida” – o que é bastante provável. Assegura que “no princípio do cristianismo escolheram chefe próprio. Cerca de 960 [DC]” tentaram apoderar-se do trono da Abissínia (Etiópia). Após uma guerra sangrenta, foram constrangidos a retirar-se para “as montanhas escarpadas de Samen, onde eles conservaram a sua independência” (Malo, 1826 pp. 332-333). Garante que as suas Bíblias são escritas “no idioma do país de Geshen por cristãos da Abissínia, que lh’as vendem”. Recusam-se a discutir a tradução e não conhecem as versões dos escoliastas. Não possuem o Talmud, nem livros cabalísticos. Não se ocupam da escrita e simultaneamente perderam a língua e os costumes hebraicos. Dizem ser o livro de Enoch o primeiro livro conhecido por eles, sendo o segundo o livro de Job. Na sua versão das coisas, “observam escrupulosamente a lei de Moisés, os preceitos dos levitas, as purificações […] as expiações e os sacrifícios” (p. 334).
 

Ainda sobre povos antigos pude ler, na antiga Biblioteca da Câmara Municipal de Luanda, o desenvolvido Essai sur le Vêda, que na verdade é um manual de História (numa aceção muito geral, a mesma de Cantu) e que tem especial interesse para a literatura, visto que se anuncia, logo na página de rosto, que podia “servir de introdução ao estudo das literaturas ocidentais” (Burnouf, 1863). O título completo é que nos dá uma ideia mais correta da obra: Essai sur le Vêda ou études sur les religions, la littérature et la constitution sociale de l’Inde depuis les temps primitifs jusqu’aux temps brahmaniques.

O exemplar encontrado apresenta uma assinatura datada, na folha de rosto: “Alfredo Moraes, Lx., [?] /4 / 6[?]”. No verso da capa tem um selo de “J. P. da Silva Rocha / com officinas typographica, e de livreiro / Rua de Salvador Corrêa / Luanda”. Dada a ortografia, penso que pode ser alguém do século XIX, mas ainda não consegui saber se houve então essa casa ali. Não se tratará da edição de 1863, pois as frases que dela copiei não coincidem por inteiro com os períodos dessa edição. Mantém-se, porém, a ideia geral das frases e dos capítulos.

Na parte que diz respeito à poesia («De la poésie du Veda») o índice anuncia: “No seu fundo: ela é descritiva. Ela é ideal ou simbólica. Relações do símbolo e da poesia; carateres poéticos das divindades do Veda; clareza (“clarté”) da sua significação; a sua analogia com as da Grécia. Tendência metafísica da poesia do Veda. Ela é pouco moralista, embora misturada à vida real”. Um tanto confusa a descrição, no começo do capítulo, vai se esclarecendo logo em seguida. Fala-se em dois tipos de literatura: uma descritiva, que detalha o objeto parte por parte e, por isso, torna-se ilegível com o tempo (na medida em que desaparecem os pormenores); a outra é a clássica. Esta literatura difere da outra porque “representa a natureza no que ela tem de essencial e de geral” (Burnouf, 1863 p. 71), procedendo por analogias, metáforas e descrições poéticas dos movimentos essenciais da natureza, sendo as figuras orientadas pela idealização ou abstração desse essencial. Ou seja, esta poética deduziria, de uma série de observações e analogias comparadas, o carater essencial das coisas. A literatura “do Vêda” seria, toda ela, só desta espécie e era isso mesmo (atingir a essência pela analogia e pela comparação) que a tornava simbólica (Burnouf, 1863 pp. 72-75).

Outras hipóteses ou teses desenvolve Burnouf que me parecem muito sugestivas no panorama filosófico da época, porque resumem uma das suas partes com clareza e situam no mapa geral a exata localização da sua obra. É o caso, por exemplo, da tese de que as ideias são independentes das palavras e as formam. As palavras (e, por arrastamento, as línguas) seriam meros reflexos e transmissores das ideias que as organizam. Pelo que, podia alguém ter pressuposto nesse tempo em Luanda ou Benguela, a língua não constitui barreira para a expressão de ideias consubstanciadas historicamente em outra língua, de outra família linguística. Isto apesar de a independência das ideias ser a razão pela qual os símbolos védicos apareciam, basicamente, em todos os povos ‘arianos”. Aliás, em plena aceleração da ‘questão judaica’, é marcada pelo autor a diferença face aos povos semitas, que ele acha total e que não seriam metódicos como os arianos (Burnouf, 1863 p. 81), estribando-se sobre um Deus estritamente pessoal e que se tentava desenhar (o que me parece um erro histórico e uma interpretação sem fundamento, pois até na Bíblia se diz que morreria quem visse o rosto de Deus e uma tal crença estruturou vários episódios ali narrados). Naquele contexto político, tal afirmação reforçava teses discriminadoras dos judeus como povo estranho à Europa (que, para Burnouf, era toda ‘ariana’, todos os seus povos descenderiam dos “aryas, nossos pais” (Burnouf, 1863 p. 78) – e, pelos vistos, mesmo os etruscos e os bascos).

Mas tudo isso, me parece, passou pouco, ou nada, para o nosso ambiente literário e cultural. Ao ler o livro de Burnouf procurei sinais dos traços que atribui à poesia indiana, mas nada encontrei nos nossos versos. Essa a razão por que, apesar do interesse e da polémica da sua obra, não desenvolvo a análise dela.

A poesia “do Veda” poderia desempenhar, no entanto, no panorama bibliográfico investigado e seguindo as teses ali expostas, a função de primórdio e, regulada por essa função, a de contraponto esclarecedor às da velha Grécia e de Roma, suas parentes mais novas. Uma referência tão forte que o autor, para falar nela, precisava de juntar o descritivo, o simbólico e o ideal…


Os gregos estão representados por um número bem maior de histórias, como era de esperar. De Pascoal José de Melo Freire dos Reis (1738-1798), jurista muito conceituado no seu tempo, anúncios que vão de 1837 a 1845 fazem referência a uma História da Grécia antiga ou História antiga da Grécia. No entanto não encontrei, em nenhuma das bibliotecas investigadas, qualquer referência a este título. A Biblioteca Nacional de Lisboa possui vários títulos de e sobre o autor, mas nenhum homónimo. Deve haver aqui algum lapso nas referências, apesar de elas se terem repetido com uma recorrência que durou quase 10 anos.

Há também menções a Histórias da Grécia, ou da Grécia antiga, mas sem indicação de autoria. Três anúncios de 1845 referem-se ainda a uma História da Grécia de Alexander Pope (1688-1744), em inglês. Não sei se, também aqui, não haverá um engano por parte dos anunciantes, pois não encontro nenhuma obra homónima, nem em nome do famoso poeta inglês, nem só em nome de Pope. O livro mais procurado do autor nos anúncios era o poema filosófico Ensaio sobre o Homem, também em inglês, ou traduzido por Targine. A obra e o autor, um neoclássico, são tratadas no capítulo correspondente à literatura.

A “história de Alexandre Magno” coloca-nos outra questão de autoria, visto que aparece sem referência a qualquer autor. Quinto Curtius Rufus, que também aparece nominalmente nas nossas referências, escreveu uma História de Alexandre Magno. Não sei se terá havido dois livros de autores diferentes a circular com o mesmo título nesta altura, no Recife ou em Luanda, mas parece-me pouco provável. Para Rufus, a edição mais próxima da época referenciada na Porbase é a de Veneza (Nicolau Pezzana, 1744). A mais próxima data de publicação de um título homónimo, nos ficheiros que pesquisei, é porém a Historia de Alexandre Magno..., impressa em Lisboa, na Reg. Offic. Typografica, em 1789. Trata-se de uma edição em dois volumes, como aquela que foi oferecida em 1840 ao Gabinete Literário do Recife e não há menção de autor na ficha bibliográfica.

Segundo Ettore Paratore, a “obra [de Curtius] pode-se definir facilmente como uma vida romanceada”. Inclui longos discursos das personagens e do protagonista, que são peças exemplares de retórica, aliás bem conhecidas pelo Cardeal Saraiva. Ela reforça, portanto, o caráter literário da historiografia clássica, referido acima, quando recorri à autoridade e sagacidade de Dionísio de Halicarnasso. O hábito de inserir discursos das personagens históricas parece vir dos gregos e ter sido introduzido na literatura romana por Salústio, mas é também comum no romance histórico do século XIX, que tem mais afinidades com a obra de Curtius Rufus.

A obra de Rufus estava dominada pela fascinação orientalista e exótica, pela busca do fabuloso (de um fabuloso assumido), do deleitoso, do colorido (como queria Dionísio de Halicarnasso), atingindo-se o “limiar do romance helenístico de aventuras”, que teve justamente na biografia de Alexandre “um dos seus temas”. O estilo era dominado por antíteses, elipses “estudadas”, “períodos de efeito”, “movimentos oratórios e patéticos” (o autor, aliás, pode ter sido professor de retórica). Por tudo isso, diz Paratore, “uma obra como a sua devia ser das mais agradáveis às matronas elegantes e aos jovens eloquentes e galantes da Roma de Messalina”. A componente exótica, a busca do colorido, o culto das antíteses e do patético, bem como o público a quem mais agradava, encontram afinidades no período romântico estudado – e se calhar mais do que entre retóricos e oradores clássicos. Muita da poesia romântica, talvez a maioria, está cheia de antíteses e cultiva tanto o patético quanto muitos dos romances e das peças de teatro dessa época. Também ela cumpria a mesma função social quanto aos “jovens eloquentes e galantes”. Para além disso, a busca do colorido e do exótico muito se manifesta na primeira metade do século XIX nos mais variados países. Já tinha sido ironizada por Voltaire no Candide, já tinha sugerido a Basílio da Gama a escrita de O Uraguay e intensificou-se com o Romantismo. Essa busca levara Ernesto Marecos a escrever as lendas em verso entre as quais se inclui a de Juca, a Matumbola. Os colaboradores angolenses no Almanach de lembranças algumas vezes responderam à procura do exótico, por eles satisfeita em apontamentos etnográficos e “curiosos”, ou mesmo em poemas usando o quimbundo. Nem sempre tal exótico apontava o luxuoso colorido oriental de que fala Paratore a propósito de Curtius Rufus, e de que dão testemunho cenas como a do aparecimento de Dário no livro III (final do cap. III), ou a descrição da Índia, com rios por onde corre o ouro e mares a depositar pedras preciosas nas areias enquanto os pássaros imitam a voz humana (exatamente o oposto da “adusta”, desértica “plaga africana” que Maia Ferreira elegera como sua terra); mas a obra satisfazia o mesmo tipo de público ávido pelo exotismo africano ou “índio”. Descrições luxuriantes, como aquela do livro IX, em que fala de serpentes maiores do que homens, lembram-nos as histórias de animais de Cadornega e o desmentido de Augusto Bastos sobre o que as pessoas “da terra” diziam da cobra ndala.


No âmbito do estudo do passado romano temos a “História Romana” de Oliver Goldsmith (1728-1774), bem mais interessante. Curiosamente, a Goldsmith atribuem alguns anúncios uma História da Grécia também. Seria, certamente, a obra The History of Greece (Goldsmith, 1825). Na Porbase, a tradução mais próxima no tempo, da Historia Romana desde a fundacão de Roma até à decadência do império romano no Occidente, é a que a tipografia rollandiana publicou em 1806-1807 (Goldsmith, 1806-1807). A menção à tradução consta só de uma das referências, uma oferta ao Gabinete Literário do Recife. As outras referências não dão sinais acerca da língua em que o exemplar estava escrito. As edições inglesas sucederam-se desde o fim do século XVIII e ao longo do seguinte, incluindo uma versão abreviada pelo autor para uso das escolas, de que há edição em 1832 e 1840. As edições com data mais próxima das referências são as de 1820 (ano em que saíram pelo menos duas: London, John Bumpus; R. N. Rose. Canandaigua, J. D. Bemis & co.), de 1821 (London, Richardson & Co.), de 1823 (London; Edinburgh, William Baynes & Son; H. S. Baynes & Co.) e de 1826 (Philadelphia, J. Grigg). Para além do francês e do português há traduções desta obra para espanhol, grego e italiano na mesma época.

Nas fontes angolanas, porém, não deparei com nenhuma referência à obra nem ao autor.

Uma vez que há várias menções a histórias romanas sem referência de autor, em inglês, em latim, em francês, ou ainda em compêndio, e uma vez que há edições da obra de Goldsmith em francês e inglês, bem como do compêndio, é de pensar que algumas dessas menções se reportavam ainda ao livro dele. A edição em latim, essa, deve ser de algum dos autores clássicos citados, talvez Salústio, que era o mais lido e procurado.

Oliver Goldsmith nasceu na Irlanda e viveu em Londres. A sua é uma biografia acidentada, sobretudo em consequência da própria personalidade. Entretanto, foi mais um homem do século das Luzes cuja bibliografia atravessou todo o seguinte. A formação académica era em Arte[1] (bacharel) e tornou-se muito conhecido como escritor, em especial com a obra The vicar of Wakefield (1766), traduzida em, pelo menos, francês, inglês, italiano e português[2]. Dela ressuma um “sadio otimismo”, que havia de contrabalançar a ironia de Voltaire em Candide, leitura comum na época. Escreveu também uma História natural e respetivo resumo para as escolas, uma outra da Grécia (igualmente com versão para as escolas, organizada pelo próprio autor e de que há menção, na Porbase, a uma edição de 1834), outra da Inglaterra, para além de inúmeros títulos espalhados por vários géneros. As edições inglesas são mais uma vez muito numerosas e várias delas podiam ter circulado naquele momento no Brasil, se não em Angola.

O seu epitáfio, escrito em latim, resume algumas das ideias-força da personalidade que o assina. Transcrevo-o na tradução inglesa:

Oliver Goldsmith: A Poet, Naturalist, and Historian, who left scarcely any style of writing untouched, and touched nothing that he did not adorn. Of all the passions, whether smiles were to move or tears, a powerful yet gentle master. In genius, vivid, versatile, sublime. In style, clear, elevated, elegant.

Para que conste...


Versando, mais uma vez, uma época particular do império romano, surge a “História da Decadência e da Queda do Império Romano” (sem menção de autor, editada por F. Guizot, ou de Gibbon, em inglês e também em francês). A obra homónima, famosa na época, era essa de Edward Gibbon (1737-1794), cujo primeiro volume saíra já em 1776, sendo publicados os últimos em 1788. A obra foi traduzida em espanhol, francês e italiano no período em estudo (ou seja: em todas as línguas consultadas – para além, claro, do inglês). A tradução em francês pode ser a de Guizot, de que há edição parisiense em 1819 (Lefévre) e em 1828 (Ledentu) – ou pode não ser, visto que há várias traduções para o francês na época (1777-1791; 1795; 1837). O exemplar encontrado na Biblioteca Municipal em Benguela (Tomo I) é o da edição de Guizot, publicada pela Ledentu, em 1828. Tem carimbos da Biblioteca Municipal de Benguela (Catálogo Geral) e da Biblioteca Provincial de Benguela. Tratando-se da segunda edição de Guizot, convém sublinhar que, para além dos “acrescentos”, “esclarecimentos” e “retificações” da primeira, ela resulta de revisão completa, de uma correção e do acrescento de uma notícia inicial sobre a vida e a personalidade de Gibbon, sendo “acompanhada de notas críticas e históricas relativas, na maior parte, à história da propagação do cristianismo”. Em inglês há compreensivelmente mais edições, sendo as mais próximas as de 1816, 1829, 1836 e 1840.

Gibbon teve autoridade no “século das Luzes”, também reconhecida em França e na Alemanha em pleno século XIX e é interessante notar que foi re-editado até hoje. Foi lido pelo enciclopédico e abolicionista José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), o “patriarca” da independência brasileira que trabalhou na administração central das colónias no Ministério da Marinha e Ultramar (Intendência Geral das Minas) ao tempo em que era ministro Rodrigo de Souza Coutinho.

Os interesses, tanto quanto os de Bonifácio de Andrada, eram múltiplos. Ele escreveu, também, um Ensaio sobre o estudo da literatura, de que houve edições francesas ainda no século XVIII (1761, 1762) e uma autobiografia. A sua conversão ao catolicismo deve tê-lo tornado simpático aos olhos da Igreja, que na altura detinha ainda uma significativa quota no mercado de ensino. Mesmo depois da descrença na qual caiu, foi considerado pelo Cardeal Newman o único escritor inglês que podia alcançar o estatuto de historiador da Igreja.

No entanto foi sempre a obra encontrada que o manteve conhecido, mesmo amado. Em 1967 ou 1968, Jorge Luís Borges, comparando historiadores e romancistas, afirma que “todos os verdadeiros historiadores” sabiam “que podiam ser tão imaginativos quanto os romancistas” e dá como exemplo Gibbon: “o prazer que desfrutamos dele é bastante afim ao prazer que desfrutamos da leitura de um grande romancista. Suponho que ele tivesse de imaginar as circunstâncias. Há de ter tomado a si mesmo como tendo criado, num certo sentido, o declínio e a queda do Império Romano. E o fez de modo tão magnífico que não me interessa aceitar nenhuma outra explicação” (Borges, 2007 p. 121). Para além de nos aduzir mais uma razão para acreditarmos nos benefícios que a ciência tira da arte, esta afirmação abre via para percebermos os mais fundos motivos da prolongada popularidade e universalidade de Gibbon. No entanto, entre nós, mesmo no século XX, nenhum esboço histórico se apresentou com essas caraterísticas.

A focagem sobre o Império leva-nos sobretudo à história do cristianismo no Império. Muitas vezes carateriza o povo e os filósofos em função da sua religiosidade e da moral com ela relacionada, filtradas à luz de um cristianismo tolerante e sublimador do melhor que havia no mundo pagão. Mas não só e, para historiador da Igreja, muito mais.

Veja-se por exemplo que a visão que nos transmite do Império antes da decadência é por assim dizer idílica e visa, talvez, usar a história para apregoar um modelo político. Entende que o Senado cumpria a sua função de legislar e aprovar, o Imperador cumpria, com habilidade e virtude, a função de governar – e logo aí vemos uma distribuição de poder a funcionar idealmente, sem interferência de um sobre o outro – todos viviam em paz, livres e contentes, embora na luxúria que a paz e a prosperidade proporcionavam. Dominava-os um saudável patriotismo, que era o amor pelo progresso e o desenvolvimento de um governo livre...

Isto faria as delícias dos românticos liberais e monárquicos (o monarca, no Brasil, chamava-se Imperador). A obra tem no entanto mais pontos de interesse, um dos quais é sem dúvida o da grande diversidade de tempos e espaços ali referidos, pois o autor não se limita a falar do Império Romano do Ocidente naquele tempo, podendo apanhar-se passagens em que fala da Sibéria, ou dos desertos árabes no século VII, etc. Sem dúvida que essa mobilidade contribuiu também para que tivesse tantos leitores no século XIX, não apenas a defesa das ideias liberais mas o preenchimento de imaginações férteis, de algum exotismo, do horizonte de expectativas dos leitores dos livros de viagens, para além – claro – da aprendizagem acerca daquele período da história romana. É também uma história que procura causas para a decadência e a queda, entre elas a moral (corrupção de costumes, generalização da luxúria), mas também causas económicas e sociais, como a do aumento das taxas e impostos, e causas culturais, como a do avanço do Cristianismo.

A par da admiração pelo funcionamento aparentemente democrático do Império, o historiador apresentava-se numa postura conservadora e elitista, que se nota nos comentários à Revolução Francesa, que terão agradado uma parte da elite angolana e brasileira da época, ligadas ao império do Brasil ou à monarquia portuguesa. A desmitificação da ideia de que somos todos iguais é clara: chama a tal ideia “uma velha superstição”.

Num aspeto particular também nos interessa a sua obra. Refiro-me ao que diz sobre Messalina, reforçando os retratos de Juvenal, Tácito, Suetónio e dos primeiros cristãos. O soneto homónimo de Cordeiro da Mata pode resultar igualmente de, ou basear-se em, uma leitura de Gibbon.

Por fim, a poética e a retórica por ele defendidas reforçam, no contexto romântico, a sensata e antiga defesa da associação entre a escrita como “espelho da mente”, ou da pessoa (que o romantismo reforçará), e como fruto acurado do trabalho sobre a linguagem.


De Michelet (1768-1874) circulava no mercado pernambucano, em 1845, a Histoire romaine – republique, de que só encontrei referência, na Porbase, a uma quarta edição, de 1866 (Paris)[3]. No catálogo da BNF há referência à edição francesa de 1833 e à terceir, de 1843. Dado que o anúncio é de 1845, qualquer das duas últimas podia estar representada ali.

Jules Michelet foi professor de História no Collège de France e diz-se que sofria de paixões políticas exacerbadas. Contemporâneo, os seus escritos tinham um interesse acrescentado na época, tanto mais que já o pai fora vítima do consulado napoleónico. Defendeu um “liberalismo pequeno-burguês”, sendo ao mesmo tempo anti-clerical “de cepa voltairiana”. Doutorou-se em letras, em 1818, com duas teses, uma das quais sobre as Vies de Plutarco (a outra sobre a ideia de infinito em Locke). Plutarco (50 DC, Beócia) é de resto uma presença do corpus.

Les vies des hommes ilustres foi traduzida por “Ricard” (que lhe faz a biografia) com o “patronato” do Episcopado. O tomo que pude consultar em Luanda é, sintomaticamente, votado a um grande orador: Demóstenes, cujo paralelo romano seria Cícero[4]. Homem viajado, escrevendo sobre filosofia, moral, ciência (da época) e História com senso de Justiça, talentoso narrador elogiado por Rousseau (Pinheiro, 1872[?] pp. 44-45), constituía Plutarco mais uma ligação entre o meio literário angolense e recifense e Michelet.

Michelet manteve-se no ensino da Filosofia e da História Antiga até 1829, quando passaria a dedicar-se exclusivamente a esta e redigiria a outra obra que consta do corpus. Enquanto historiador era um romântico típico, interpretando os acontecimentos e descrevendo-os “com grande poder evocativo”, seguindo instintivamente as suas emoções e acreditando messianicamente na “voz do povo”. A sua História da República romana, publicada em 1831, tem um estilo vivo e claro e introduz em França, com originalidade, as ideias que Niebühr (nascido na Dinamarca[5]) tinha professado na Alemanha. Apesar disso, apresenta pontos de vista próprios com a pesquisa efetuada. Na historiografia sobre Roma, pesem embora as distâncias e o quanto elas implicam, o estilo vivo, a originalidade, a posição social (o pai era dono de uma tipografia e livraria) e a crítica aos nobres fazem lembrar Salústio. Pelo menos a sua obra reforça no meio local a tendência para uma escrita viva, pouco retórica, que talvez não toque profundamente Maia Ferreira mas que se nota num poeta artisticamente menos interessante que é Arsénio de Carpo (refiro-me aos seus panfletos em defesa própria e ao Dedo de pygmeu, que é uma autobiografia lírica, escrita em defesa própria também). Claro que a lírica tartamudeante de Arsénio de Carpo não se compara, nem de perto nem de longe, ao discurso inflamado, de largo sopro, de Michelet – que de resto se processa num registo genológico diferente. O que há em comum é essa ténue ligação por uma escrita viva e vivida, a mesma que aparece mais tarde, exuberante, na polémica jornalística luandense da segunda metade do século.

As considerações sobre a cultura latina e a importação da cultura grega, por sua vez, haviam de suportar uma visão crítica acerca das próprias fontes latinas lidas na época. Diz, por exemplo, que “l’histoire était généralement pour les Romains un exercice oratoire’’, no que tinha em geral razão, confirmada como vimos por Dionísio de Halicarnasso, que estende essa caraterística aos gregos seus antecessores. Espalha, apesar disso, a ideia de que os romanos possuíam um espírito demasiado prático para virem a ser poetas interessantes (v. livro II). Tal ideia se tornou comum até hoje.

Vibra com aqueles que verberam a classe dos nobres, em que parece projetar a sua raiva à nobreza francesa contemporânea. Exalta por consequência a figura de Noevius, poeta igualmente admirado por Horácio, e Catão, aspetos estes que terão decisivamente contribuído para a sua influência sobre os realistas portugueses (Braga, 1877 p. 17).


A visão da história como arte oratória e narrativa atingiu talvez o extremo ainda no século XVIII, com o abade Barthélemy. Jean-Jacques Barthélemy nasceu em Cassis (Aubagne, Provence) em 1716, numa família de comerciantes e morreu em Paris em 1795, depois de ter sido preso e desapossado dos seus bens pela revolução francesa. Levou ainda assim uma vida longa para a época. Aprendeu filosofia e teologia com os jesuítas, mas foi como estudioso de antiguidades, de moedas, e de línguas ‘orientais’ (foi o primeiro a traduzir uma inscrição fenícia) que fez carreira. Apesar disso, ficou famoso até hoje com uma mistura de história e de romance que inaugurou o romance histórico, mas com originalidade ímpar, a que ao mesmo tempo o torna um predecessor de modernas correntes das ciências humanas e sociais que, filiadas nas últimas revoluções científicas, acreditam nas vantagens de juntar o trabalho artístico e o científico num só. Em vez de nos traçar um quadro da Grécia no século IV (antes de Cristo), imaginou que um jovem bárbaro chegasse a Atenas pouco antes do nascimento de Alexandre e fosse colhendo costumes, leis, filosofias e filósofos da cidade e regiões vizinhas. A inclusão de quadros esclarecedores (até de medidas romanas comparadas com as contemporâneas) e das notas ajudavam o leitor a imaginar com maior precisão as cenas. Assim nos legou cenas vivas da época e do lugar, ao mesmo tempo que realizava, de modo muito próprio, a ideia abrangente que o Iluminismo tinha da História (envolvendo aspetos sociais, tradições, culturas, aspetos políticos, etc.). A viagem do jovem bárbaro seria aproveitada para conversar com Platão, Aristóteles, Demosténes, Epaminondas, Xenofonte e outros, tornando ainda mais vivo e rico o decurso geral, que termina com um retrato de Alexandre. A linguagem desses diálogos, tal como o estilo do próprio autor, são correntes, naturais, simples. É esse livro, a Voyage du jeune Anacharsis en Grèce vers le milieu du quatrième siècle avant l’ère vulgaire, que o representa nas bibliotecas angolanas do século XIX, mais precisamente na de Joaquim Eugénio de Salles Ferreira, cuja biografia resumi. Os sete volumes dessa histórica estória aparecem entre nós na edição de Janet et Cotelle, feita em Paris em 1824 (Barthélemy, 1824).  O livro foi muito popular desde que saiu, em 1787, havendo várias re-edições e traduções desde o fim do século XVIII e ao longo do seguinte. O caráter romanesco do livro sai reforçado pelo facto de Barthélemy nunca ter visitado a Grécia. Mais, a ideia do livro, segundo expõe nas memórias que introduzem esta edição, ocorreu-lhe em 1755 numa viagem a Itália. O desenvolvimento do projeto da obra é esclarecedor para a psicologia da criação literária e coincide com dados trazidos a essa problemática por I. Lotmann. Inicialmente o erudito planeava figurar um viajante na Itália do Renascimento para retratá-la nos aspetos literário, científico e artístico; por falta de elementos suficientes, ele modificou o plano e passou ao que nós conhecemos na versão final, que durou 30 anos a criar e compor. A exposição, longa, destas peripécias, no começo da edição representada em Luanda, ajudou certamente os leitores românticos (e mais ainda os do fim do século XIX) a terem uma ideia oficinal e realista da criação literária, sem dúvida afastada das irrupções instantâneas e vulcânicas do génio de salão.


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[1] Não significa o mesmo que ser bacharel em Artes hoje.
[2] É anunciado ainda sete vezes no Jornal do comércio do Rio de Janeiro, em 1844. Mais do que o Telémaco ou as Aventuras do imperador Carlos Magno. Há uma trad. port.ª de 1830 e outra de 1845 (Lisboa). Sobraram exemplares de qualquer delas no Rio de Janeiro (Vasconcelos).
[3] O Catálogo da livraria de Antero de Quental indica a data de 1876 para a 4.ª ed.
[4] As Vidas eram Vidas paralelas, ou seja, aos pares, portanto biografias comparadas (o próprio Plutarco, mesmo nesta biografia de Demóstenes, se refere ao seu livro como “este livro das Vidas paralelas”, título que tomaram muitas edições, embora não a que estava na antiga Biblioteca Municipal de Luanda.
[5] Barthold Georg Niebuhr (1776-1831), em parte autodidata, historiador e estadista, defendia, entre outras premissas, a de que havia uma tradição oral, de baladas, a que era preciso dar atenção para estudar a história de Roma. Algumas das suas hipóteses, como essa, não foram muito bem recebidas no meio académico, mas outras (o seu estudo da origem da plebe, das tensões entre plebeus e patrícios – baseada em distinções étnicas, dos mitos como fontes históricas) criaram escola até hoje. O seu grande trabalho, Römische Geschichte, foi publicado (os 2 primeiros tomos) em 1812. Enquanto embaixador em Roma descobriu e publicou fragmentos de Cícero e Tito Lívio, entre outros.

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