Três bibliotecas importantes no último quartel do século XIX


Como disse atrás, essas três bibliotecas pertenceram a Alfredo Troni, Joaquim Eugénio de Sales Ferreira e Urbano de Castro. Foram a base da Biblioteca Municipal de Luanda no século XIX e começo do seguinte. Falarei um pouco sobre elas e os seus proprietários. 


Alfredo Troni dispensa apresentações, estudado e considerado já por muitos estudiosos da literatura angolana. Para os leitores menos informados nestas particularidades basta-nos dizer que, para além de advogado, exerceu as funções de Delegado do Procurador da Coroa e Fazenda, Juiz de Direito de Benguela e encarregado de negócios do consulado alemão[1]. Dirigiu e foi o principal redator do Jornal de Loanda, periódico de referência a todos os títulos e muito particularmente para a literatura da época, pois nas suas páginas se revelou a geração de Cordeiro da Mata, Eduardo Neves, J. O. da Cruz Toulson, J. Bernardo Ferrão, etc. Os poucos textos críticos por ele publicados mostram um ensaísta enxuto, arguto, irónico e atualizado. Escreveu, quanto se saiba, apenas uma obra literária, no entanto fundamental para os primórdios da narrativa artística no país: Nga mutúri, que até hoje continua vivo na literatura angolana e respetivo mercado editorial. Parte do que dizem ter sido a sua casa, próximo da Mutamba, está hoje ocupada por desalojados e sem teto e a outra parte pertence à Universidade Lusíada, quase em frente à Associação Chá de Caxinde – mas há discordâncias em relação a estes dados. Pouco importando as discordâncias, interessa-nos neste caso que, fosse essa ou a do vizinho, ele morava numa zona prestigiada e crucial da cidade, quem sobe da Baixa para o Palácio do Governo por esse lado.

Alfredo Troni dirigiu e fundou, segundo Carlos Ervedosa (que julgo fundamentar-se em Júlio de Castro Lopo), para além do Jornal de Loanda, o Mukuarimi (“linguarudo”), de 1888 (segundo o meu ficheiro; Ervedosa coloca prudentemente um ponto de interrogação sobre o último número) e Os concelhos de Leste (Troni terá sido o primeiro intelectual residente em Angola a dar uma atenção maior aos ditos, então sofrendo os primórdios da uma dolorosa instalação do corpo administrativo colonial).  

Nasceu em Coimbra a 4 de Fevereiro de 1845, sendo filho do catedrático de Direito José Adolfo Troni (1825-1886), que mais tarde se dedicou à advocacia em Lisboa. José Adolfo Troni, que era maçom, descendia de italianos, mas nascera em Madrid, onde o pai – Luís – combatia com as tropas de Napoleão. José Adolfo terá recebido carta de naturalização a 23-8-1851. A data, porém, em que se tornou cidadão português, é posterior, segundo Francisco Topa, que aponta 1858 (Topa, 2015 p. 162). José Adolfo Troni publicou vários opúsculos jurídicos, um deles envolvendo a ‘fonte dos amores’ em Coimbra. Contribuiu para a defesa do famoso guerrilheiro João Brandão, no município de Tábua, classificando-o o autor do relato como “arguto advogado”. Possuiria dotes oratórios extraordinários.

Um senão relativo à ascendência de Alfredo Troni reside no apagamento do seu nome da descendência de José Adolfo. Nos sítios de genealogia postos em rede e por mim consultados, apenas aparece como seu filho um médico, Augusto Maria Ribeiro Troni, que é irmão de Alfredo e, como ele, perfilhado só em Janeiro de 1869 (Topa, 2015 p. 161). Desconheço a razão por que isso acontece e deixo aqui a informação. A que junto esta: pela mesma via (internet) soube que houve uma descendência brasileira da família Troni.

O nosso escritor e causídico bacharelou-se em Direito em 1866, concluindo a formatura no ano seguinte (Topa, 2015 pp. 162-163). Viveu, além de Portugal, em São Tomé – para onde foi em 8.3.1869 – e Cabo Verde, para onde o nomearam ainda nesse ano, apesar de ter concorrido a cargo em Benguela (Topa, 2015 p. 165)). Em 1872 voltou a Portugal por motivos de saúde, ficando aí até final desse ano. As biografias que tenho lido apontam 1873 como data de partida para Angola, no entanto, Francisco Topa só encontrou sinais da sua presença na colónia em 1874, como “juiz de direito da comarca de Benguela”. No final desse ano (a 30 de Dezembro) foi autorizada a sua transferência para Luanda, que só se deve ter efetivado no início de 1875 (Topa, 2015 p. 166). O Jornal do Porto, em uma série de notícias enviadas de Luanda a 30.4.1875 e publicadas a 11.6.1875, noticia a chegada à capital da colónia do "novo juiz nomeado para a 2.ª vara d'esta comarca", o nosso autor, e informa que ele "já tomou conta do seu cargo". O investigador portuense detalha a progressão administrativa e, mesmo, social de Troni em Luanda, pelo que remeto para o seu estudo o leitor interessado, aproveitando apenas o que mais diretamente se relacione com este estudo. A sua biografia terminou em Luanda a 25 de Julho de 1904. Além do estudo de Francisco Topa deve-se também consultar as Nótulas históricas de Alberto de Lemos (Lemos, 1969) e Um doutor de Coimbra em Luanda, de Júlio de Castro Lopo (Lopo, 1959).

Foi eleito deputado por Angola em 1878, após o que o tentaram transferir para Moçambique. Percebendo a manobra, resolveu demitir-se e dedicar-se em exclusivo à atividade privada, abrindo a tempo inteiro banca de advogado. O episódio é nebuloso (Topa, 2015 pp. 167, 172), mas essa decisão parece revelar uma definitiva aposta em Angola. Empenhou-se no combate à escravatura e não era politicamente bem visto por Lisboa (Lopo, 1959). Para além de ter sido eleito deputado por um número expressivo de votos (4928 em 5448), foi também Presidente da Câmara Municipal de Luanda (por poucos meses, tendo sido dissolvida essa Câmara “por decreto do comissário régio” (Lopo, 1959 p. 17; Topa, 2015 p. 174)) e da Associação Comercial da mesma cidade. Em ambos os cargos terá contribuído para o avanço da leitura e da cultura na capital.

Outra das funções exercidas prende-se diretamente com o ensino, mas não só integrando o Conselho Superior de Instrução Pública (em 1877): “recebeu a incumbência de inspeccionar as escolas da cidade”, em 3.7.1876 (Santos, 1998 p. 140). Francisco Topa detalha mais a função, que foi sem dúvida importante para nós (Topa, 2015 p. 167):
informar depois sobre a aptidão dos professores, methodo de ensino seguido, grau de instrucção dos alumnos, capacidade das escolas, estado das alfaias escolares, uso de objectos auxiliares do estudo, como instrumentos, mappas, exemplares, e tudo quanto em tão momentoso assumpto possa habilitar o governo a bem providenciar.
Mas é ainda da sua eleição para deputado que tiramos a informação de que se manteve leitor e estudioso atento em Luanda, referindo-se-lhe a “variadissima leitura que possue e aturado estudo que faz” (Topa, 2015 p. 167). Disso mesmo nos apercebemos ainda consultando as obras por si compradas e que li na Biblioteca do Governo Provincial de Luanda.

Com efeito, com o seu espólio bibliográfico foi refundada a atual Biblioteca do Governo Provincial de Luanda, antiga Biblioteca Municipal, tendo o mesmo sido oferecido pelos herdeiros em 1913 (Santos, 1973 p. 125). Aí deparamos com muitos exemplares da literatura da época, muitas vezes datados e assinados pouco depois de terem saído em Paris, ou Lisboa, ou em outras cidades. A sua biblioteca, pelas relações que mantinha, deve ter sido fundamental para a geração de 1878. Isto aumenta o significado literário do Jornal de Luanda, no qual não por acaso publicou a parte mais significativa da geração.

Uma vez que a porção da sua biblioteca ainda constante no Governo Provincial de Luanda foi uma das nossas fontes, não vou desenvolver aqui mais considerações sobre as leituras que trouxe ao meio luandense. É sobre o conhecimento delas que assenta, em grande parte, o que afirmo neste livro.


Urbano de Castro, preso por abuso de liberdade de imprensa em Luanda, no mesmo ano em que Alfredo Troni se bacharelou em Direito em Coimbra, é já e também conhecido por quem se dedica minimamente a estudar a literatura e o jornalismo angolanos do século XIX.

António Tomás Pinto Quartim, que apoiava (a partir de Lisboa) Júlio de Castro Lopo nas suas pesquisas, enviou-lhe uma nota sobre o que leu no “Dicionário Portugal”. Dessa nota realço:
António Urbano Monteiro de Castro […] nasceu em Lisboa a 26 de junho de 1836, falecido em Luanda a 23 de dezembro de 1893. Era filho de António Urbano Pereira de Castro e de D.ª Felicidade Augusta Guerreiro de Brito; irmão do jornalista Urbano de Castro.
Os dados, entretanto ampliados por ambos, não coincidem, perfeitamente, com outros. A julgar por Arquivos de Angola (Museu de Angola, 1950 p. 269), era filho de António Urbano Monteiro de Castro Telles d’Eça Pereira da Cunha. O nome extenso combina com a crónica feita após o seu espancamento, em que lhe alteram ligeiramente o nome, acrescentando por exemplo “Encerrobodes” para lhe trazer efeito cómico.

Júlio de Castro Lopo confirma o nome completo do pai e completa o nome da mãe: Felicidade Augusta Perpétua Guerreiro de Lobo Brito Mascarenhas e Castro. (Lopo, 1964 p. 30)

Segundo Júlio de Castro Lopo chegou “a Luanda, pela primeira vez, em 19 de fevereiro de 1856”, acompanhando o pai, dado como “empregado público no Boletim oficial onde se publica a chegada. Regressou “poucos meses depois” a Portugal, onde se matriculou na Escola Politécnica. Voltou para Angola “a 13 de fevereiro de 1859, sendo nomeado, poucos dias depois, escrivão de Direito” (Lopo, 1964 p. 30). Não temos dado muita importância, nos estudos literários lusófonos, à Escola Politécnica e à sua antecessora. Porém, como vamos vendo ao longo desta obra, lá se formaram poetas, escritores, intelectuais que se tornaram importantes para Portugal e Angola, menos (mas também) para o Brasil e suponho que de Cabo Verde haveria notícias interessantes a registar.

O cargo de “escrivão de Direito” dizia respeito à Relação de Luanda e ele ainda o exercia em 1867. Como era de regra, passou por momentos altos e baixos, para isso tendo contribuído uma personalidade forte, irreverente e inquieta. Foi negociante, incluso proprietário do palhabote Congo (Governo geral de Angola, 1865 p. 13), de 27,5 toneladas[2], da “lancha D” e da “Felicidade” – pelos vistos, o nome da mãe, D.ª Felicidade[3]. Recebeu elogios (1.1.1882) pelo empenho no desenvolvimento comercial do Dondo, enviados pelos negociantes daquela praça com “uma pena de ouro cravejada de brilhantes, referindo a sua ação articulada com o famigerado Banco Ultramarino e a utilíssima Companhia de Vapores do Quanza (Lopo, 1964 p. 34). Político polémico e, inicialmente, libertário, sofreu processos em tribunal que o chegaram a impedir de advogar, mas esteve na base de algum do jornalismo do século XIX e não deve ser ignorado nesta pesquisa, por outros motivos ainda.

Entre mais afazeres e cargos, Urbano de Castro foi professor, foi primeiro secretário das comemorações do 1.º de Dezembro, apanhou uma surra de um rival que nos valeu uma das crónicas hilariantes da época, foi vereador da Câmara e administrador do Concelho, membro da Associação Comercial de Luanda, e jornalista. Tornou-se, enfim, uma figura luandense desse tempo e por Angola deixou larga descendência até hoje, como também em Portugal.

Enquanto jornalista ativo e fundador de jornais, o seu papel é de realçar e não só pela dinamização das leituras no meio. É que também, sem deixar de defender interesses de comerciantes portugues, abraçou posições comuns às dos filhos da terra. Veja-se, por ex., A União Áfrico-portuguesa, de 1882-1883, órgão por ele fundado e que alinhou na defesa de direitos iguais e liberdades iguais para filhos da terra e reinóis, juntamente com outros periódicos como o O futuro d’Angola (1882-1894), Muen’exi (1889) e Arauto africano (1889-1890), num combate que reuniu momentaneamente os intelectuais e escritores angolenses e europeus assimilados ao meio (Freudenthal, 2001) contra preconceitos raciais portugueses e discriminação dos africanos escolarizados em Angola.

Interessado no desenvolvimento de conhecimentos sobre África e Angola, teve iniciativas importantes, associado com Alfredo Mântua. Note-se que Alfredo Mântua era outro residente de origem europeia e descendência local (que, porém, não continuou na colónia). Teve um fim trágico: morreu em 1895, com um tiro de revóver que não seria dirigido a ele, no meio de uma discussão vespertina, entre comerciantes portugueses, no interior, sobre dívidas e prejuízos.

Mântua participou também ativamente na vida da colónia desse tempo, havendo várias posições comuns aos dois. Enquanto redator de A civilização da África portuguesa, publicou o folhetim Ilusões perdidas, em que se reportava à sua experiência africana e lamentava o desconhecimento sobre Luanda e Angola que havia em Portugal (comentava, por exemplo, a crença dos portugueses em leões que passeavam nas ruas das nossas cidades). Júlio de Castro Lopo, além de elogiar a defesa dos “interesses dos portugueses” em Angola (a sua era, sabemo-lo, uma perspetiva colonial), apresenta ao seu amigo Pinto Quartim (que para ele realizava pesquisas em Lisboa) Alfredo Mantua como “criatura honesta e muito defendeu os oprimidos nesta colónia. Refere, ainda, a existência em Luanda (não indica onde) de duas coleções de A verdade, jornal republicano que Mantua cofundara em 1882 (12.2.1882-13.9.1888) com o famoso Pe Castanheira Nunes, também professor em Luanda e cuja família estava ligada a Arganil, em Portugal. Os dois filhos que Alfredo Mântua teria deixado órfãos foram viver para Lisboa, sendo um deles o “comediógrafo Bento Mântua.

Entre as iniciativas mais importantes dos dois amigos está a criação de A civilização da África portuguesa, cujo primeiro número saiu em 6.12.1866, encontrando-se um brasileiro – o naturalista Francisco Pereira Dutra – entre os co-fundadores e redatores (Dutra entrou mais tarde na redação). Foi periódico muito significativo para nós, não só pela data de início mas pelo seu posicionamento claro na crítica à prepotência dos governantes coloniais e na defesa da completa abolição da escravatura e das guerras do kwata-kwata, sendo de salientar a posição de Urbano de Castro na chamada guerra dos Dembos. Esse combate estava articulado à defesa de alguns interesses ‘indígenas’ e, sobretudo, de interesses de comerciantes, angolenses e residentes, apostados em negociações livres, abertas e pacíficas no interior do futuro país. Enquanto se operava essa luta, é bastante provável que acarretasse para Luanda bibliografia coincidente.

O projeto da Sociedade Propagadora de Conhecimentos Geographico-africanos de Loanda, em 1880 ou 1881, foi outra iniciativa importante a que esteve indissociavelmente ligado o nome de Urbano de Castro. Ela tornou-se conhecida como Sociedade de Geografia de Luanda e terá sido impulsionada por Henrique de Carvalho, segundo Júlio de Castro Lopo. Através dela se terá introduzido literatura científica atualizada na capital da colónia.

Poeta sem brilho, que mesmo metricamente não tinha grande companhia na colónia (preferia o verso de cinco sílabas, usado poucas vezes entre nós ao tempo), Urbano de Castro impressionou mais a pequena comunidade luandense da época pelos dotes oratórios do que pela poesia lírica. Foi ele quem fez o elogio fúnebre de José Cardoso Vieira de Castro, a 6.10.1872, no Alto das Cruzes. O discurso foi, para conhecimento de todos, publicado em O mercantil de 10.10.1872 e Camilo tê-lo-ia inserido em obra sua posteriormente (Lopo, 1964 p. 33).

De todos estes dados interessa-nos agora a sua participação no ensino e a contribuição para a “biblioteca popular”, que terá sido a origem mais recuada da atual Biblioteca do Governo Provincial de Luanda e a razão pela qual o incluímos aqui. O relatório da Câmara Municipal de Luanda publicado (em parte) no n.º 12 (31 de Março) do Boletim oficial de 1874 (p. 142) refere que “deu esta vereação também princípio a uma biblioteca popular, que teve a satisfação de inaugurar, neste edifício, no 1.º de Dezembro último [de cuja comissão era primeiro secretário o nosso versejador]. // Contém esta seis boas estantes, contendo já 265 livros próprios, e 250 emprestados pelo sr. Vereador Urbano de Castro, e alguns mapas geographicos”.

O vereador elaborou também o regulamento da Biblioteca, mas o que mais nos interessa é pensar em quantos livros e que livros teria a biblioteca de um vereador que dispensava 250 títulos para aquele efeito. Além disso, há que imaginar os leitores que a biblioteca podia ter. Não sabemos quem seriam, mas sabemos que os havia e que a instituição foi frontalmente assumida pelos luandenses quando quiseram fechá-la, em 1882, alegando que muitas vezes tinha funcionamento deficiente (Santos, 1973 p. 123). Os livros de Urbano de Castro eram emprestados, é certo, mas o facto de ficarem a residir ali tornava-os acessíveis a um leque mais vasto de leitores (alguns dos quais os levavam, pois apareciam títulos, ainda no século XIX, vendidos na praça e na rua com o carimbo da biblioteca). Não sei se ele assinava os livros que lhe pertenciam, é provável que sim. Não encontrei, porém, até hoje, nenhum contendo a sua assinatura nas estantes da Biblioteca do Governo Provincial de Luanda. Há vários com assinaturas ilegíveis, pode ser que em alguns casos se trate de Urbano de Castro. De qualquer modo, o relatório é claro quanto à contribuição do polémico vereador. Dando-se o caso de ser elogiado por Oliveira Martins e Pinheiro Chagas, é de supor que a bibliografia destes e alguma que lhes era afim passassem pelas suas mãos e pelas dos amigos. Essa bibliografia, sobretudo no que diga respeito a Pinheiro Chagas, integrava-se perfeitamente no nosso leque de leituras da segunda metade do século XIX.

Através da digitalização de documentos expostos no sítio digitarq, da Torre do Tombo, ficamos a saber que, entre 10.6.1890 e 11.7.1890 se processou o seu passaporte, pedido para ir a França, de onde certamente havia de trazer bibliografia atualizada. Ali aparece referida a idade, 53 anos; no início do processo, era essa a sua idade, no fim já teria 54 anos. Pelo documento confirma-se ainda que era “advogado e administrador do concelho de Luanda”, residindo provisoriamente em Lisboa, na Rua de S. Bento, 343, 3.º. Oficialmente, iria para se tratar e o documento de confirmação também o dá como “administrador do concelho de Luanda”. Parece-me bastante provável que os problemas de saúde estivessem relacionados com o seu passamento, cerca de três anos e dois meses depois.

A sua certidão de óbito o deu como “advogado, professor e administrador deste concelho”, falando em 59 anos, o que não parece muito certo, pois teria 57 anos em 1893. Ainda segundo a mesma digitalização do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, a Câmara Municipal de Luanda aprovou, “por proposta de determinado vereador”, que se lançasse em ata relativa à reunião (29.12.1893) “um voto de sentimento pela morte do Snr. António Urbano Monteiro de Castro e que se dê disso conhecimento à viúva.” (Museu de Angola, 1950 p. 108). A viúva chamava-se Maria José Botelho de Sampaio e Castro, ficando órfãos “3 filhos e 2 filhas” (Lopo, 1964 p. 34). As filhas receberam os nomes de Mariana e Filomela (também li que uma delas era Ana). Quanto aos filhos, António Urbano foi jornalista; Artur Urbano, “jornalista e homem de letras”; Alfredo Urbano, general. Só o primeiro ficou em Angola, tendo os outros passado a residir em Portugal. Artur e António Urbano assinavam simplesmente Urbano de Castro, o que leva a encontrarmos, inclusivamente na imprensa portuguesa, colaborações suas que, se não virmos atentamente as datas, podemos confundir com as do pai. Aliás, com as do pai e outras, visto que, por exemplo, Castro Lopo refere em carta a Quartim a morte nessa altura (1942), em Lisboa, de Alfredo Urbano Monteiro de Castro, administrador de circunscrição aposentado. Não me parece que um general acabasse a vida com tal cargo e Castro Lopo estava, nesse momento, algo desorientado ainda com a malha de nomes Urbano de Castro, confundindo (ou hesitando entre) filhos e irmãos.

Mas o importante a reter aqui é, sem dúvida, o contributo do professor e vereador para a democratização da leitura em Luanda.


Joaquim Eugénio de Salles Ferreira raramente vem comentado quando se fala de livros, cultura, literatura. Sugiro por isso acompanharmos a sua ascensão desde o mesmo ano de 1874 (quando começou a sua progressão em Angola o autor de Nga Mutúri), com algum pormenor, até porque foi paralela da de Alfredo Troni.

Anteriormente a essa data não deparei com o seu nome no Boletim oficial (entre os que li depois deste nome se tornar significativo). O que pude acompanhar antes foi a ascensão do irmão, Francisco de Salles Ferreira, muito possivelmente mais velho e protetor do nosso docente.

Francisco de Salles Ferreira viera para Angola, provavelmente, a partir de São Tomé; digo isto porque, por Despacho de 9 de Janeiro de 1852, havia sido nomeado “Comandante interino do Batalhão de Caçadores da Rainha”, sendo então “Major graduado da Província de S. Thomé e Príncipe, servindo nesta Província”[4]. Mas era major, no Presídio de Pungo-Andongo, já em 17 de Dezembro de 1851[5]. Tinha combatido, nessa qualidade, o jaga rebelde Bumba, derrotando-o e fazendo eleger definitivamente outro, a quem entregou os símbolos reais deixados por Bumba. Na sequência da subjugação do Cassange, de suas vias comerciais e da Feira local encontrava-se, já, na sociedade colonial de Luanda, prestigiado e com salário razoável. A passagem fulminante pelo Cassange estará na origem da Memória sobre o sertão de Cassange (datada de “Loanda, 20 de Abril de 1853”), bem como na do livrinho (81pp.) Ouro, prata e carvão no Golungo Alto e Cambambe. Junto com Do tabaco em Angola e Minas de Angola (que parece ter íntima relação com Ouro, prata e carvão no Golungo Alto e Cambambe), são estas as obras dele referenciadas, publicadas em 1877 e 1896, respectivamente. Em 1855 saíram as Explicações de doutrina cristã em português e angolense para uso das missões do interior de Angola (150pp.), que foi a 4.ª edição do catecismo Genti­lis Angollae Fidei Mysteriis Instructus, ex lusi­tano i­dio­mate latine redditus, ao qual acrescentou um «Guia de Conversação». A edição foi custeada pelo negociante Francisco António Flores (que esteve envolvido no tráfico ilícito para o Brasil), pelo que podemos pensar que, nesse ano, Francisco Salles Ferreira não era ainda muito rico. No entanto, contribuiu com 10.000 réis para as “Exéquias fúnebres e Monumento do Exm. Conselheiro Pedro Alexandrino da Cunha, que foi Governador-geral desta Província”[6] e se destacou pelo combate ao tráfico transatlântico de escravos. Essa ambiguidade (ligação a traficantes e simultânea homenagem a quem os combatia) foi comum na época, tanto entre colonos quanto entre angolenses e várias vezes identifiquei já nestas páginas – a propósito, por exemplo, de Joaquim Luiz Bastos, amigo de Maia Ferreira.

A rebelião de Cassange foi, como disse, a sua grande oportunidade, no tempo do governador Adrião Acácio da Silveira Pinto – a quem Maia Ferreira dedicara um poema nas Espontaneidades da minha alma e que depois, discretamente, perseguiria o poeta. De São Tomé o exoneraram para servir enquanto “Comandante da Expedição de Cassange”[7], tendo derrotado o Jaga nas “duas expedições enviadas contra o ex-Jaga de Cassange” e sendo então transferido oficialmente para a Província de Angola, promovido ao posto de “Major efetivo de Infanteria da referida Província” por Decreto assinado pela Rainha. Era ainda o “Comandante geral da expedição de Cassange” em em 8-7-1852[8].

Por portaria de 1-9-1852, “foi exonerado do Comando da expedição de Cassange onde prestou úteis serviços, o Sr. Major Francisco de Salles Ferreira por terem cessado os motivos que deram logar à sua nomeação pela Portaria n.º 64 de 10 de Fevereiro último, devendo ser empregado como mais conveniente for ao serviço.”[9] A conveniência nomeou-o “Comandante interino do Batalhão de Infantaria desta Província”[10]. Na mesma altura foi nomeado “Membro do Tribunal da Junta de Justiça” por Portaria do Governador-geral n.º 151, de 6-10-1852[11]. A partir daí nunca mais parou de subir na hierarquia militar e civil da colónia, particularmente em Luanda, alcançando uma sólida posição no momento em que observei a ascensão social do nosso bibliófilo, seu irmão. A tal ponto chegou a sua fama e situação que, em 1-10-1893, quando o novo governador-geral Álvaro Ferreira tomou posse, a notícia e ele próprio são muito bem recebidos em Angola, por ser o filho de Francisco de Salles Ferreira e natural de Luanda, casado com uma filha do desembargador Joaquim Guedes, que também foi figura prestigiada na colónia. A esposa era, igualmente, natural de Luanda, neta de J. Rodrigues Coelho do Amaral, engenheiro que foi governador de Benguela, duas vezes governador de Angola (1854-1860; 1869-1870), Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar em Portugal (4-1-1868 a 22-7-1868). Isto mostra igualmente a excelente colocação de Francisco de Salles Ferreira na hierarquia social da colónia de Angola. Do que terá beneficiado o irmão professor.

Joaquim Eugénio terá nascido em Lisboa, a 14.10.1846. Faleceu também na capital do império, mas a 6.1.1883. 

Antes da partida para Angola seria professor de Liceu em Lisboa (onde lecionou em vários colégios) e, possivelmente, outras localidades. Terá vindo puxado pelo irmão? Sabe-se que o pai deles, Francisco de Salles Ferreira, morrera em Angola (no Bembe, a 18.1.1857), com o posto de tenente-coronel graduado da guarnição da colónia. Seria também por isso? A verdade é que tomou posse, como professor da Escola Primária de Luanda, a 1.6.1871 (v. abaixo a data de nomeação), regendo a Cadeira de História Universal e Princípios Elementares de Física. Além de professor, funcionário público, político, foi também jornalista, colaborando em O Mercantil de Luanda.

J. E. de Salles Ferreira fez parte, com António Urbano Monteiro de Castro, da “Comissão de Angola” para comemorar o 1.º de Dezembro em 1874[12]. Foi nomeado sócio honorário da Associação Comercial de Luanda, juntamente com F. A. Pinheiro Baião, Lino de Sousa Araújo (outro nome bem conhecido do jornalismo angolano[13]) e João Chrysóstomo Mackonelt, “como representantes da imprensa periódica desta capital”, onde Joaquim Eugénio colaborava. Nessa altura Francisco de Salles Ferreira ocupava o cargo de primeiro secretário da mesma Associação[14]. Foi, nas eleições seguintes, escolhido para a direção da Associação Comercial de Luanda (de que também fizeram parte o poeta e bibliófilo Urbano de Castro e o romancista e bibliófilo Alfredo Troni, ambos jornalistas), como primeiro secretário, passando Francisco de Salles Ferreira a vice-presidente[15]. Francisco de Salles Ferreira assumiu, pouco depois, as funções de cônsul do Brasil enquanto o cônsul ia para a Europa sem tempo determinado. Este dado é importante, pois reforça a hipótese de se terem lido poetas brasileiros contemporâneos em Angola. Por outro lado confirma as ligações ‘brasileiras’ de Salles Ferreira, de que já suspeitava a partir do apoio de Francisco António Flores ao catecismo por ele reeditado. Parece que o irmão do nosso bibliófilo foi um cônsul ativo e rigoroso, a julgar pelos anúncios que saíram no mesmo Boletim oficial. Para além disto foi dos amigos referidos por Capelo e Ivens entre os que eles reencontraram em Luanda, juntamente com o professor Miranda Henriques, Urbano de Castro (que lhes “prestou” um “vocabulário da língua N’bunda”) e José Maria do Prado (Capelo, et al., 1881 p. 224;376).

J. E. Salles Ferreira fez ainda parte, com António Félix Machado (pai de Pedro Félix Machado), Carlos Augusto da Silva[16], Joaquim Bernardo Ferrão (irmão de José Bernardo Ferrão)[17] e Francisco Salles Ferreira, de uma Comissão de negociantes eleitores de “4 juízes jurados substitutos e supranumerários” em 1874. Os três primeiros nomes repetem-se, pelo menos, em 1865[18] e 1874[19]

Joaquim Eugénio foi professor também na Escola Principal de Luanda (nomeado a 15.3.1871) e integrou os júris dos exames (nomeado a 25-6-1874)[20], juntamente com o outro professor, Nicolau Rogeiro (Santos, 1998 p. 184). Nessa qualidade, seguiu "em comissão" para os vários concelhos da colónia, fazendo visitas de inspeção escolar. Cerca de três meses depois era “Secretário do Conselho Inspetor” da “Instrução Pública”. A 21-7-1876 integrava a então criada comissão de reforma do ensino público de Angola, juntamente com Tomás Gomes de Almeida (“bispo da diocese”), José Maria da Lembrança de Miranda Henriques, o cónego António José do Nascimento e Nicolau Rogeiro (Ferreira, 2015 p. 61; Santos, 1998 pp. 130, 183). A 26.9.1878 foi nomeado para a novel comissão para a instauração do ensino profissional em Angola (Santos, 1998 pp. 187-188)

A sua carreira no ensino foi, portanto, fulgurante. Fez Joaquim Eugénio a sua viagem a Moçâmedes e Benguela, pelo que se deduz da notícia dos navios entrados e saídos em Luanda nesse mês de Setembro de 1874. As viagens relacionavam-se, penso, com os exames que marcou sendo Secretário do Conselho de Instrução Pública, ou deviam-se à nomeação “para visitar as escolas das diversas povoações de Angola, em trabalho de inspecção”, datada de 26.8.1874 (Santos, 1998 p. 140) e já referida acima. Trago o assunto aqui, de novo, para que se veja o que isso implicava culturalmente. Não eram exames rotineiros: destinavam-se ao provimento de professores para as “aulas régias” de Benguela e de Moçâmedes. Os exames dão-nos uma ideia, quer das exigências que o Secretário considerava indispensáveis, quer do que implicava ser professor da “aula régia” naquele tempo. Constavam de

1.º Leitura e recitação de um trecho de um livro clássico, princípios rudimentares de gramática geral, conhecimento racional e prático da língua portuguesa.
2.º Doutrina cristã e noções elementares de História Sagrada
3.º Aritmética e sistema métrico decimal.
4.º Noções de Corografia de Portugal e suas possessões, especialmente desta província.
5.º Noções de história pátria, factos mais notáveis.

Isto para as provas orais. Para as escritas

1.º Problemas elementares de aritmética e sistema legal de pesos e medidas
2.º Escrita de um texto em prosa ou verso de um livro clássico, ditado pelo presidente do júri
3.º resposta a um quesito sobre pedagogia prática ou sobre alguma das disciplinas de instrução primária [22]

Note-se a cultura geral exigida, que implicava conhecimentos de História que reforçam a minha intuição quando registei e comentei os livros dessa disciplina nas nossas fontes. Mais importante ainda para a pesquisa é o peso da literatura, dentro dela a clássica europeia e a sagrada, confirmando a pertinência do estudo realizado no Recife e da consideração do pendor clássico sobre os nossos tentames românticos.

Os livros que lia o Secretário foram, portanto, significativos para os seus alunos, os professores, os leitores dos periódicos e os amigos da elite luandense da época e respetivas adjacências. A sua presença e importância não se resumem aos anos aqui referidos, importantes para a geração de 1878 ou de 1880 ou do Jornal de Loanda. A ascensão de Joaquim Eugénio de Salles Ferreira na administração colonial em Luanda continuou. Ele foi Administrador do Concelho de Luanda (era-o em 1878). Nessa altura já tinha o estatuto, também, de Cavaleiro da Casa Real. Por já ter menos importância para o nosso estudo, dado estarmos no final do século, não pesquisei detalhadamente esses anos no Boletim oficial, mas vi que se deslocara a Lisboa a 8.8.1881, ano e meio antes de falecer nessa mesma cidade. Iria já doente? 

O que nos interessa é que o seu nome continuou a destacar-se na pequena sociedade luandense do tempo e, portanto, as suas leituras continuariam significativas para vários leitores locais. Temos visto e continuaremos a ver, ao longo destas páginas, várias vezes, o seu nome referido como proprietário de obras importantes para o nosso estudo e muitas delas em edições atualizadas para a época. Também será escusado enumerá-las aqui, pois ao longo do livro irei referindo-as.

O nosso bibliófilo, como disse atrás, ensinava na “segunda cadeira” da Escola Principal, onde se estudava, segundo aviso de 17.10.1874, "História Geral, História Pátria, História de Angola, Geografia Geral e Corografia de Angola"; já depois de ele iniciar funções, eram as seguintes as matérias: “princípios de Cosmologia, elementos de Geografia matemática, Geografia comercial, História geral e Física elementar”. As aulas iam começar a 1 de Outubro desse ano e Alfredo de Sousa Netto, que nos deixou sinal de si com dois poemas no Almanach de lembranças, era o professor da “aula primária, anexa à escola principal”, onde na “primeira cadeira” se lecionava “arithmética, algebra, escripturação mercantil, geometria elementar e lingua franceza”[21]

Pela sua actuação como professor em vários locais de Angola (incluindo no interior) e pela razoável biblioteca que o deve ter acompanhado, mais do que pela sua poesia (aliás, preconceituosa), vale a pena falar aqui de Alfredo de Sousa Neto, a par de Salles Ferreira. Foi nomeado professor de instrução primária a 2.12.1873, penso que em Luanda. Segundo Joaquim Eugénio de Salles Ferreira, então secretário do Conselho Superior de Instrução Pública, que muito lhe elogia inteligência e zelo, montou a aula primária oficial sozinho. A 15.7.1875 foi suplente do júri para exames de aptidão para o magistério primário, justamente em substituição de Joaquim Eugénio de Salles Ferreira. Ainda lecionava, nesse ano, na Escola Principal de Luanda, mas, estranhamente, só prestou provas como professor de instrução primária a 28.3.1877. Nesse mesmo ano foi exonerado para servir como escrivão da Alfândega de Mossâmedes, sendo substituído a 10.7.1877. Entretanto, no mês seguinte, penso que em resultado dos exames prestados, foi confirmado como professor em Luanda, a 13.8.1877 e foi realocado na capital, a lecionar, em 16.7.1878. Ainda fez parte do júri de exames com o famoso professor Miranda Henriques e J. E. Salles Ferreira em 1881, ano em que trabalhava na escola de N.ª Sr.ª dos Remédios, em Luanda, à qual ofertara Urbano de Castro 10 exemplares da Cartilha maternal de João de Deus - a mesma que tanto impressionou Cordeiro da Mata. Entretanto, em 1891, foi dado como louco, intimado (por isso) a aposentar-se, de resto com as contas muito bem feitas a seu favor. Encontrava-se, nesse ano, no Ambriz, onde seu irmão, Leopoldo de Sousa Neto, era professor também. O chefe do Concelho de Ambriz lhe passou guia para Lisboa (em função da doença). 

Vê-se, em resumo, que Alfredo de Sousa Neto estivera, pelo menos, em três localidades da colónia, sendo que em duas delas como professor e sendo a estada mais importante e mais prolongada em Luanda. O seu irmão Leopoldo, juntamente com o jornalista angolense Carlos da Silva, tentou promover uma estátua a Miranda Henriques - uma das figuras tutelares do ensino ao tempo, na colónia - mas parece que sem sucesso. Temos, portanto, uma figura bem integrada, sobretudo no sistema de educação, cujas leituras seriam importantes para aquele meio, onde a escola primária desempenhava papel primordial. 

A estes dois nomes (J. E. de Salles Ferreira e Alfredo de Sousa Neto) devemos ainda somar José Maria da Lembrança de Miranda Henriques (n. cerca de 1835, figura cimeira do ensino desse tempo em Luanda e Angola), o padre Castanheira Nunes o cónego António José do Nascimento (patrono da comunidade angolense quando saiu a Voz de Angola clamando no deserto), além de outros nomes que pontualmente professavam no ensino primário (Agostinho José Cordeiro da Mata - o pai do poeta -, António Urbano Monteiro de Castro - comerciante, jornalista, político e poeta -, Mamede Afonso Ferreira de Sant'Anna e Palma - jornalista e funcionário público, amigo de Cordeiro da Mata -, Manuel Alves de Castro Francina - co-autor de Elementos gramaticais da língua Nbundu: oferecidos a D. Luís I, com o médico brasileiro Saturnino de Sousa e Oliveira). 

Os dados oficiais existentes acerca destes professores constam, no geral, dos trabalhos de Martins dos Santos sobre o ensino em Angola, que também venho citando. Por isso não preciso detalhar as respetivas biografias. No conjunto vemos que havia, em torno da embrionária rede de ensino (32 escolas contabilizadas em 1876), passando por ela e buscando nela prestígio e salário, um grupo de leitores e escritores interessados, cultos e bem relacionados na colónia e na ‘metrópole’. Entre eles detinha posição cimeira o bibliófilo de que trato agora.















[1] LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 13 (01-04-1899) 163.
[2] LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 3 (14-1-1865) 21.
[3] Esta úlitma lancha – Felicidade – foi autorizada a circular em 1864 entre Luanda e os rios Dande, Kwanza, Bengo (LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 6 [14-1-1865] 1).
[4] LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 328 (10-1-1852) 1.
[5] LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 328 (10-1-1852) 2.
[6] LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 328 (10-1-1852) 2.
[7] V., por ex., LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 338 (20-3-1852) 1.
[8] Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 354 (10-7-1852) 3.
[9] Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 364 (18-9-1852) 2.
[10] Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 366 (2-10-1852) 2. – Portaria de 2 de Outubro.
[11] Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 370 (30-10-1852) 2.
[12] LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 5 (31-01-1874) 51.
[13] Foi um aluno brilhante da Escola principal (onde também se estudava métrica e prosódia), onde estudou com o conhecido professor Miranda Henriques, junto com Joaquim Luiz Bastos (LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. – 23 (03-06-1865) 3). Era, em 1899, “recebedor” na Rep. Fazenda de Luanda e 1.º Tesoureiro Geral da Rep. Fazenda provincial, tendo pago nesse ano emolumentos. V. LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 7 (18-02-1899) 97;109. Aposentou-se em Junho de 1899 com pensão anual de 600$000 réis. Chamava-se Lino Maria de Sousa Araújo e deve ser, pelas idades, um próximo familiar do homónimo conhecido no jornalismo angolano dos anos 20 e 30 do século XX.
[14] LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 22 (30-05-1874) 254.
[15] LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 20 (10-05-1874) 229.
[16] Creio ser o jornalista que refere discussões sobre a independência no jornal O mercantil, discussões “muito comuns” em Angola e especialmente no Cazengo, de onde assina o artigo (“Cazengo — Agosto — 82”), mas não tenho, de momento, como confirmar. O autor toma uma posição moderada sobre o assunto, que já referi na Notícia da literatura angolana (Soares, 2001), onde recordo igualmente a sua recensão aos Delírios de Cordeiro da Mata e a sua notícia de que José Bernardo Ferrão andava afastado dos irmãos no fim da vida mas que um deles, António, iria publicar o seu livro de poemas – o que não sucedeu. O mesmo “Carlos da Silva” (como assina os artigos) veio a ser, segundo penso, dir. de O arauto africano; um Carlos Augusto da Silva Júnior era vigário em Luanda (v. Kicola. I. Luanda: Mayamba, 2012).
[17] Julgo ser um dos irmão de José Bernardo Ferrão, um dos três ‘poetas do Quanza’.
[18] LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 1 (1-1-1865) 8.
[19] LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 41 (10-10-1874) 487.
[20] LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 28 (11-07-1874) 219.
[21] LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 39 (26-09-1874) 462-463.
[22] LUANDA. Governo-geral da província de Angola – Boletim oficial. 41 (10-10-1874) 484.

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